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DIVERSIDADE E DEFICIÊNCIA NO NOVO MILÊNIO PDF Imprimir E-mail

Por Rosangela Berman Bieler e Geraldo Marcos Nogueira Pinto
Presidente e Secretário Executivo, Instituto Interamericano sobre Deficiência (IID)

 

Na natureza, todas as criaturas vivas possuem a mesma estrutura de código genético - o DNA. Num certo ponto do processo, os códigos começam a se diferenciar, trazendo identidade peculiar a cada espécie, a cada ser. Uma das belezas da vida está no fato de que o mesmo DNA, responsável por tantas semelhanças entre os seres vivos é também aquele que os torna tão diferentes e individuais.

Enquanto gerava sua família a Mãe Natureza assegurou-se de que a vida iria conter, ao mesmo tempo, simplicidade e complexidade. Cada peça do quebra-cabeças, mesmo a sua menor parte, tem um papel, de maneira (a única maneira) que este pode ser montado e mantido em equilíbrio. Sob a perspectiva do Ser Humano são necessários humildade e orgulho, para compreender e aceitar que somos realmente pequenos em todo o contexto do universo; porém, cada um de nós tem um papel que deve ser desempenhado para alcançar o equilíbrio. Devemos aprender sobre como viver em diversidade, como aceitar as diferenças individuais e como fazer com que elas nos beneficiem a todos.

Parece que nós, pessoas ligadas a área da deficiência, temos essa visão. Podemos sentir e compreender tais conceitos. Esta visão nos torna responsáveis e nos transforma em importantes porta-vozes para as transformações que a sociedade está começando a introduzir. Estaremos prontos para isto?

No Brasil, costumamos contar a estória de um colibri que, durante um grande incêndio na floresta, foi visto indo e vindo, carregando água no bico e derramando-a sobre o fogo. Os outros animais, muitos deles maiores e mais forte do que o colibri, fugiam o mais rápido que podiam, pensamento somente em salvar a própria pele. Enquanto corria, um leão que observava o colibri perguntou-lhe se ele não havia ainda se dado conta de que não iria conseguir extinguir o incêndio com aquelas poucas gotas de água mas, em vez disso, iria acabar morrendo. Sem parar de trabalhar o colibri disse, então, ao leão: - estou somente fazendo a minha parte.

Em nosso dia-a-dia, quando tomamos decisões, a maior parte do tempo precisamos escolher entre a visão do leão e a do colibri, sobre o mundo, a vida e sobre nós mesmos. Será que, nesse processo, sequer consideramos ou nos importamos de fato com aqueles que nos rodeiam?

A POPULAÇÃO DO MUNDO

O Dr. Philip M.Harter, MD, FACEP da Universidade Stanford, Escola de Medicina, recentemente declarou que "Se nós pudéssemos reduzir a população da terra para uma aldeia de exatamente 100 pessoas, com todas as relações humanas existentes permanecendo as mesmas, chegaríamos mais ou menos ao seguinte quadro:

Haveria:

57 asiáticos, 2l europeus, 14 do Hemisfério Ocidental, do norte e do sul, 8 africanos;

52 seriam mulheres, 48 homens;

70 seriam não brancos; 30 seriam brancos;

70 seriam não cristãos; 30 seriam cristãos;

89 seriam heterossexuais; 11 seriam homossexuais;

6 possuiriam 59% de toda a riqueza do mundo e todos os 6 seriam dos Estados Unidos;

80 habitariam moradias de baixo padrão;

70 não saberiam ler;

50 sofreriam de subnutrição;

1 estaria próximo da morte;

1 estaria próximo de nascer;

1 teria educação universitária;

1 possuiria um computador;

E conclui: "Quando consideramos nosso mundo sob uma perspectiva de tal forma comprimida, a necessidade de aceitação, compreensão e educação se torna extremamente obvia".

O fato de que o aspecto da deficiência não esteja refletida nestas estatísticas não nos surpreende. Embora sejamos uma proporção relevante de cada uma destas categorias, ainda assim não somos considerados como parte da auto-imagem social. A sociedade não nos conta como integrantes, como pares, mesmo quando tenta retratar toda a sua diversidade.

Pensar toda diversidade humana, humanizar e universalizar serviços são os grandes desafios que nos impõe este início de um novo milênio. Os sintomas que detectamos não parece, infelizmente, ser exclusividade de países pobres, marginalizar as diferenças tem sido a "sabedoria" dos homens que num esforço em vão tentam padronizar o que Deus, infinitamente sábio, criou totalmente diverso.

Parafraseando Matilde Zavala de Gonzalez, a igualdade pressupõe o respeito às diferenças pessoais. Porque igualdade não significa o nivelamento de personalidades individuais. Pelo contrário, não se ganha uma efetiva e substancial igualdade sem que se tenha em conta as distintas condições das pessoas.

Por outro lado, assim como a liberdade absoluta na convivência social conduz ao anarquismo, a igualdade artificial das concretas desigualdades ou ‘igualdade absoluta’ leva a dispersonalização e a massificação.

O igualitarismo absoluto é injusto porque trata aos seres humanos como unidades equivalentes, sem atentar ou atender as desigualdades fatídicas que os diferencia.

Por isto, se tem dito: "O princípio do tratamento igual não contém nada de rigidamente igualitário, pois só se refere aos casos de homogeneidade e não de uniformidade ou aos de tipicidade e não de identidade".

A injustiça da discriminação ocorre quando se coloca uma pessoa em situação de inferioridade que seja lesiva a sua dignidade.

A igualdade fica prejudicada quando se processam discriminações injustas a uma pessoa ou a determinado grupo ou segmento.

Contudo, a humanidade há de entender que "distinto" (diferente) não significa necessariamente "inferiores".

 
 
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